Estimulando o processo de inovação nas ONGs
Frequentemente organizações pedem “ideias inovadoras” a seus doadores, colaboradores e admiradores, mas elas mesmas falham em estruturar e entregar essa inovação em forma de projetos – e muitas vezes até penam para definir qual seria o real significado de “inovar”.
Isso acontece porque elas supõem que a inovação só acontece por meios naturais (o famoso dom da criatividade) ou obscuros, sem muita técnica envolvida no processo.
Mas para inovar não é preciso “reinventar a roda”
Essa falta de definição acaba resultando em uma noção de que inovar envolve uma ideia que redefinirá mercados, que será disruptiva e que trará mudanças dramáticas – devemos encontrar o iPhone da educação infantil ou o post-it do desenvolvimento econômico, por exemplo.
Como resultado, as expectativas em relação à inovação são tão altas e confusas que muitas pessoas se sentem intimidadas até mesmo para tentar dar sugestões.
Elas não percebem que também podem inovar, e que a inovação não é domínio exclusivo dos mais inteligentes ou dos mais criativos.
A verdade é que, em ambientes favoráveis com apoio e supervisão, a maioria das pessoas pode gerar, testar e implementar ideias inovadoras.
As três características que compõem um ambiente favorável à inovação
E esses ambientes favoráveis são criados quando se reúnem algumas destas características:
- A liderança acredita que todos podem ser inovadores.
- A liderança está disposta a identificar, testar e implementar de forma regular ideias potencialmente inovadoras.
- A liderança mede os riscos envolvidos com prudência (nem toda ideia inovadora é necessariamente boa!).
Por isso, a inovação não vem por meio de ideias isoladas, mas aparece quando há estímulo e apoio.
Então, uma vez que essas condições estejam presentes na instituição, há quatro passos a serem dados para gerar inovações continuamente. São elas:
1. Faça uma sessão de brainstorming
Se você não tem familiaridade com o termo “brainstorming”, acha que é “coisa de publicitário”, ou precisa de uma ajudinha para relembrar, aqui vai a definição do dicionário Caldas Aulete:
“[Brainstorming é a] Técnica de debate em grupo na qual os participantes contribuem espontaneamente com ideias para solução de um problema ou elaboração de um trabalho criativo.”
E no terceiro setor existem muitas fontes que podem ser exploradas e revistas pela equipe em busca de ideias inovadoras.
Elas incluem sucessos, fracassos ou eventos inesperados, e até mudanças externas, fraquezas na forma como a organização arrecada fundos e entre outros processos específicos do seu tipo de trabalho.
Sendo assim, durante os debates procure por mudanças que possam produzir oportunidades. Foque as discussões do grupo em questões como:
- O que tem nos surpreendido?
- O que tem mudado em nossa área?
- O que tem mudado para nossos beneficiários?
- O que tem mudado para nossos doadores?
Depois de ter as respostas para essas perguntas, respondam novamente, a si mesmos:
- Que oportunidades ou ideias podemos desenvolver a partir dessas mudanças, desafios ou até mesmo desses sucessos?
- Que novas abordagens, produtos ou serviços podemos criar para nos beneficiarmos dessas oportunidades e para sanar novas necessidades nossas e de nossos beneficiários?
2. Avalie suas ideias
Se você já identificou ideias potencialmente inovadoras, o próximo passo é avaliá-las de acordo com quatro critérios:
- Custo: os possíveis investimentos em recursos, como equipe, mão de obra terceirizada, novas tecnologias e também o impacto de potenciais riscos.
- Benefícios: eles são maiores que os riscos e serão percebidos/entregues em um prazo aceitável? Em outras palavras, vale a pena tirar o projeto do papel?
- Adequação à estratégia da instituição: a ideia se encaixa na sua missão, nos seus valores e na estratégia geral da sua organização?
- Implementação: o processo necessário para chegar ao resultado esperado pela ideia é viável para a instituição nesse momento?
Avaliar as ideias de acordo com esses critérios deve ajudá-lo a determinar as oportunidades que têm mais potencial de sucesso.
3. Desenvolva suas ideias
Muitas organizações não desenvolvem completamente suas ideias com potencial de inovação antes de começar a implementá-las. (Não seja essa organização!)
Leve o tempo necessário para avaliar cada oportunidade identificada, analise os prós e os contras, crie cenários em que são previstas as melhores e as piores hipóteses (e os fatores que podem levar a elas), bem como identifique os riscos e as recompensas.
Só depois de sujeitar uma oportunidade a essa análise rigorosa e chegar à conclusão de que vale a pena segui-la é que você pode tomar as ações para pô-la em prática com mais segurança.
4. Tire as ideias do papel
Formule um plano de implementação que identifique os fatores necessários para embasar a execução bem-sucedida da sua ideia.
Leve em consideração também o que pode ir contra ela – e o que você pode fazer para minimizar os riscos.
Crie um plano de ação detalhado que explicite as medidas a serem tomadas, os prazos e os responsáveis por cada etapa. Ou seja, é interessante sempre planejar um cronograma para que os projetos não caiam no esquecimento ou na desorganização.
Resumindo
A inovação pode assumir várias formas, e isso depende da comunidade em que a organização se encontra, do perfil da própria organização, das oportunidades que aparecem pelo caminho e das pessoas que ajudarão e tirar as ideias do papel.
Porém, o melhor disso é que uma ideia inovadora acaba trazendo outra, gerando uma verdadeira cultura que estimula o compartilhamento de ideias.
Não se esqueça de que os limites para as inovações são apenas aqueles que colocamos em nós mesmos. Por isso, crie, arrisque-se e teste o que for possível!